sexta-feira, 27 de março de 2009

Devaneios

Minhas palavras têm atravessado o mundo, mas quantos ouvidos?

Na corda bamba


Onde está nossa confiança? A arte de delegar a alguém a responsabilidade do erro, da vergonha, do feio e de tudo que existe de degenerativo na existência humana é - essencialmente humana. É ensinada no berço, para logo se tornar algo quase inato: a mãe que recrimina seu filho está instituindo também a arte do sofrimento e da vingança. Infligir o castigo é moldar o indivíduo a interesses alheios, sempre. As pessoas aprendem rápido através do sofrimento: logo este infante delega a seu irmão a culpa e quando não mais pode fazê-lo, chora, esperneia - o que causa certo tipo de sofrimento e desconforto para seus pais - na tentativa de compaixão para com a sua pena.
Já estamos acostumados a sempre ter alguém para nos dizer o certo, o errado, qual caminho seguir. Mas nunca nos perguntamos o que têm sido certo, o que têm sido errado: são substantivos que parecem seguir a regra dos verbos: mudam conceitos segundo um tempo, segundo uma época.
Andar por opiniões alheias é arriscar-se a cair de chão firme; ir por si mesmo é ser um acrobata que experiencia os mais diversos sentimentos da vida: tanto a suave brisa das alturas quanto a inexorável incerteza da corda bamba.
Quando não temos mais a quem delegar a culpa do erro, de estarmos nos sentindo em um pântano - onde o cheiro deveria denunciar a origem dessa situação - delegamos a algo maior, destino e tudo o mais de imutável. De onde veio esse estratagema que tem sido mister até os tempos atuais? Por vezes afirmamos “Ora, estamos no século XXI!” e o que de mais ínfimo ainda não nos foi abolido de nossas vidas.
Assumir a responsabilidade do erro, da vergonha, do feio e de ser o que se é, é enfim, Existir. E destino é uma desculpa que os fracos usam para aquilo que não conseguem mudar. Por onde têm andado seus pés?